segunda-feira, dezembro 27, 2010

O haver....(Vinicius de Moraes)


Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura, essa intimidade perfeita com o silêncio
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo...
– Perdoai! Eles não têm culpa de ter nascido...

Resta esse antigo respeito pela noite, esse falar baixo, essa mão que tateia antes de ter, esse medo
de ferir tocando, essa forte mão de homem cheia de mansidão para com tudo que existe.

Resta essa imobilidade, essa economia de gestos, essa inércia cada vez maior diante do Infinito
Essa gagueira infantil de quem quer exprimir o inexprimível, essa irredutível recusa à poesia não vivida.

Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento da matéria em repouso, essa angústia da simultaneidade, do tempo, essa lenta decomposição poética em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius.

Resta esse coração queimando como um círio, numa catedral em ruínas, essa tristeza diante do cotidiano; ou essa súbita alegria ao ouvir passos na noite que se perdem sem história...

Resta essa vontade de chorar diante da beleza, essa cólera em face da injustiça e do mal-entendido
Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa piedade de si mesmo e de sua força inútil.

Resta esse sentimento de infância subitamente desentranhado de pequenos absurdos, essa capacidade
de rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil e essa coragem para comprometer-se sem necessidade.

Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza de quem sabe que tudo já foi como será no vir-a-ser
E ao mesmo tempo essa vontade de servir, essa contemporaneidade com o amanhã dos que não tiveram ontem nem hoje.

Resta essa faculdade incoercível de sonhar, de transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade de aceitá-la tal como é, e essa visão ampla dos acontecimentos, e essa impressionante e desnecessária presciência, e essa memória anterior de mundos inexistentes, e esse heroísmo estático, e essa pequenina luz indecifrável
a que às vezes os poetas dão o nome de esperança.

Resta esse desejo de sentir-se igual a todos, de refletir-se em olhares sem curiosidade e sem memória
Resta essa pobreza intrínseca, essa vaidade se não querer ser príncipe senão do seu reino.

Resta esse diálogo cotidiano com a morte, essa curiosidade pelo momento a vir, quando, apressada
ela virá me entreabrir a porta como uma velha amante, mas recuará em véus ao ver-me junto à bem-amada...

Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto, esse eterno levantar-se depois de cada queda, essa busca de equilíbrio no fio da navalha...
Essa terrível coragem diante do grande medo e...esse medo infantil de ter pequenas coragens.


quarta-feira, junho 23, 2010

O IMPORTANTE É O FOCO... Don't worry

Um paciente vai num consultório e diz pro psiquiatra:
- Toda vez que estou na cama, acho que tem alguém embaixo.

Aí eu vou embaixo da cama e acho que tem alguém em cima. Pra baixo,pra cima, pra baixo, pra cima. Estou ficando maluco!
- Deixe-me tratar de você durante dois anos. - diz o psiquiatra.
- Venha três vezes por semana, e eu curo este problema.
- E quanto o senhor cobra? - pergunta o paciente.
- R$ 120,00 por sessão - responde o psiquiatra.
- Bem, eu vou pensar - conclui o sujeito.

Passados seis meses, eles se encontram na rua.
- Por que você não me procurou mais? - pergunta o psiquiatra.
- A 120 paus a consulta, três vezes por semana, dois anos =R$ 37.440,00, ia ficar caro demais, ai um sujeito num bar me curou por 10 reais.
- Ah é? Como? - pergunta o psiquiatra.

O sujeito responde:
- Por R$ 10,00 ele cortou os pés da cama...

Muitas vezes o problema é sério, mas a solução pode ser muito simples...

HÁ GRANDE DIFERENÇA ENTRE FOCO NO PROBLEMA E FOCO NA SOLUÇÃO...

Foque uma solução ao invés de ficar pensando no problema.

terça-feira, junho 22, 2010

Breve homenagem a José Saramago

Escritor que foi consagrado com muitos premios entre eles Camões e Nobel da Paz, ficou conhecido pelo seu livro "Ensaio sobre a Cegueira" posto que foi filmado e ganhou repercussão através da linguagem do cinema, muito humano justamente por ser realista em suas palavras. Assim hoje em silêncio ergo uma rosa em sua homenagem e que muitas aves venham cantar e acalantar nossos ouvidos.




ERGO UMA ROSA

"Ergo uma rosa, e tudo se ilumina
Como a lua nao faz nem o sol pode:
Cobra de luz ardente e enroscada
Ou vento de cabelos que sacode.

Ergo uma rosa, e grito a quantas aves
O ceu pontuam de ninhos e de cantos,
Bato no chao a ordem que decide
A união dos demos e dos santos.

Ergo uma rosa, um corpo e um destino
Contra o frio da noite que se atreve,
E da seiva da rosa e do meu sangue
Construo perenidade em vida breve.

Ergo uma rosa, e deixo, e abandono
Quanto me doi de mágoas e assombros.
Ergo uma rosa, sim, e ouço a vida
Neste cantar das aves nos meus ombros".


Alzo una rosa, y todo se ilumina
Como no hace la luna ni el sol puede:
Serpiente de luz ardiente y enroscada
O viento de cabellos que se mueve.
Alzo una rosa, y grito a cuantas aves

El cielo colorean de nido y de cantos,
En el suelo golpeo la orden que decide
La union de los demonios y los santos.

Alzo una rosa, un cuerpo y un destino
Contra la fría noche que se atreve,
Y con savia de rosa y con mi sangre
Perennidad construyo en vida breve.

Alzo una rosa, y dejo, y abandono
Cuanto me duele de penas y de asombros.

Alzo una rosa, si, y oigo la vida
En el cantar de las aves de mis hombros."


José Saramago

domingo, maio 30, 2010

Heaven And Hell - Black Sabbath

"Love can be seen as the answer, but nobody bleeds for the dancer (...)

You've got to bleed for the dancer
Fool, fool
Look for the answer"

Não se conquista o amor


Rafael Rabelo




Se te amo, te desprezo
Não posso querer-te bem ou idealizar-te
não posso sonhar a ti ou escrever a ti
Se te amo, não me entrego

Não serei teu. Na verdade, nem te notarei
Não comoverão tuas lágrimas ou súplicas
Se te amo, te esqueço

Não é sendo teu que seras minha
Não terei teu coração, entregando o meu
Se te amo, não te desejo

só poderei ter-te se tu se entregas
Não te conquisto, te aceito
Só não te desejando, terei-te

Não se tem jamais o que se sonha ter

Caso contrario, se dou-me, serei eu teu
E não tu minha.

Terei-te tão somente em imagem. Tão somente em sonho
Somente serás digna do meu amor quando se entregar a mim.
Só amarei se me amar.
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
PS: Fecha logo e me esconda a chave...


quinta-feira, maio 27, 2010

Resposta - Skank




"Ainda lembro
Que eu estava lendo
Só prá saber
O que você achou
Dos versos que eu fiz
Ainda espero
Resposta..."

A gente escreve nas folhas da vida e aguarda resposta e...

muitas vezes ela vem e não sabemos ler

a linguagem dos sinais diversos é complexa.

quinta-feira, maio 20, 2010

Degusta-me



Entrego- lhe o orgulho
Feito de aço foi armadura
Hoje é entulho
Dou-lhe o ego
Que pesa e prende
Preciso do elo
Leve e sem amarras
Na sua frente
Imploro - algeme-me
Não o seduzi, nem poderia
Se o fizesse, perderia
Seu poder sobre mim
Degusta-me, sou vinho
Passeio em sua boca
Sob seu comando
Envolvo sabores
Para engolir-me

(((rosinha)))

quinta-feira, maio 06, 2010

Geração Ovelha Negra também quer amor e sexo, não só rock’ roll


Relendo uma matéria sobre a Rita Lee intitulada "Não nasci para casar e lavar cuecas", publicada na revista Rolling Stone em 2007, 15ª edição, escrita por Marcus Preto, uma questão me chamou a atenção – uma frase de Tom Zé:

“(...) Mulher que é bem trepada lava a roupa sorrindo. Uma Rita bem trepada em um país que vive na mão de ditadores lava a política com um humor fino e cortante e resulta em uma música gostosa de cantar. (...)”

Lembrei de como eu e minhas amigas cantávamos quase que como um hino a música ovelha negra sem ter sido especificamente uma, mas achando muito legal quem sabe ser uma. Afinal não participamos do movimento, colhemos seus frutos, de qualquer sorte (azar) pegamos o finalzinho da ditadura e nos descobríamos seres pensantes e que agem em meio a descobertas sexuais e artísticas, tudo no mesmo saquinho de metamorfose ambulante.

Ahhhhhhh o amor livre...onde foi parar? Existe?
“Se o que eu mais venero é a beleza de deitar” (Raulzito)
“How did you lose your virginity Mary Long?
When will you lose your stupidity, Mary Long?” (Deep Purple)
Entre roxos e eufóricos perdemos e ganhamos muitas coisas.
Qual era mesmo a liberdade almejada?
Ao que me lembre era a de escolha fomos até para as ruas pelas “diretas já”.
Só o que escolhemos nos faz livre? Aceitar é uma escolha?

Outra frase agora da própria Rita é gostosa de citar:

“Não nasci para casar e lavar cuecas. Queria a mesma liberdade dos moleques que brincavam na rua com carrinho de rolimã. Quando entrei para a música, percebi que a 'tchurma' dos culhões reinava absoluta, ainda mais no rock. 'Oba', dizia eu, 'é aqui mesmo que vou soltar a franga e, literalmente, encher o saco deles'. Depois que provei a mim mesma que era capaz de conseguir as mesmas vitórias, sosseguei um pouco o facho. Principalmente depois que Roberto entrou na minha vida feito um Lancelot. Minha Guinevere pôde então exercer a função de namorada, amante e mãe. No palco, sou mais macho do que fora dele, (...).”

Gostoso ver a ovelha negra se render ao cavaleiro e permitir viver seu lado princesa e frágil.
Então será que Tom Zé tinha razão ao dizer que uma mulher bem trepada lava roupa sorrindo? Ou não se nasce para isso, simplesmente se aceita num tempo da vida? Isso é escolha?
Meio que num cruzamento movimentado de Sampa hoje me desvencilho da ovelha negra e saio cantando sexo antes, amor depois, ou será o contrário?
Hummm, meu bem você me dá água na boca!


((rosinha))

Guerra das Rosas


Cortem-lhe a cabeça! Cortem-lhe a cabeça!

Henriques, Eduardos e a coroa pipocando entre rosas brancas e vermelhas.
Anos de luta transformados em jogos, jogos de xadrez onde duas Rainhas, a Vermelha e a Branca disputam o trono que oscila entre bem e mal, entre vermelho e branco, entre chapeleiros e alices na busca de um país das maravilhas.
País onde tudo é colorido e surreal como num sonho.
Escolha seu personagem e venha sonhar e fazer escolhas, assim eu li o convite para assistir Alice no País das Maravilhas.




Onde começa a minha loucura e onde termina a sua?

segunda-feira, maio 03, 2010

Olhos nos olhos




Bom te olhar
Sinto cada vez mais falta de lhe olhar
Quanto mais olho, mais te adoro.
O que é adorar?
Para os hebreus significava ajoelhar-se, dobrar-se diante do Senhor.
Para os gregos, aproximar-se Dele e beijar a Sua mão.
Para mim é tudo isso e mais.
Mais o Olhar que me freia,
Mais o olhar que me devora,
Mais o olhar que me fascina
Quando mergulho no verde
Em busca de mais de Você.
Assim adoro caminhar pelo seu olhar,
Passear com minhas mãos pelo seu corpo,
Te acariciar e te dar prazer,
Te adoro!
((rosinha))

sexta-feira, abril 30, 2010

Quero ou sou querida?



Escolho o cúmplice
Por ter um brilho penetrante de tonalidade instigadora em sua pupila.
Por ter um olhar que chama e dá medo.
A mim não interessam os bons, nem os maus.
Fico com aqueles que fazem de mim louca e santa.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Escolho companheiro pela cara lavada e pela alma exposta.
Não quero só o ombro ou o colo, quero também sua maior Alegria.
Que seja metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis nem choros piedosos.
Quero a realidade e sua fonte de Aprendizagem, nas lutas para que a fantasia não desapareça.
Não quero que seja adulto e nem chato. Quero-o metade infância e outra metade velhice!
Criança, para que não esqueça o valor do vento no rosto; e velho, para que nunca tenham pressa.
Enfim quero que saiba quem eu sou.
Quero muito saber e conhecer você.
Pois o vendo louco e santo;
Bobo e sério; criança e velho;
Nunca me esquecerei de que: "Normalidade"É uma ilusão imbecil e estéril.

(adaptação de Loucos e Santos de Oscar Wilde) por rosinha



Rosa Rosae


Rosa
e todas as rimas
Rosa
e os perfumes todos
Rosa
no florindo espelho
Rosa
na brancura branca
Rosa
no carmim da hora
Rosa
no brinco e pulseira
Rosa
no deslumbramento
Rosa
no distanciamento
Rosa
no que não foi escrito
Rosa
no que deixou de ser dito
Rosa
pétala a pétala
despetalirosada

(Carlos Drummond de Andrade)